segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Maria, A Crônica

Dado Pessoal – Maria, a Trabalhadora, trabalha como caixeira viajante e nesse momento está no Rio de Janeiro.
Momento – Fome. De morrer.

Maria, a Caronista, pegou trânsito e nesse dia estava estava de carona com uma das Marias que trabalham com ela. Dessa Maria, Maria, a Pósconceituosa, até gosta. Cansada, sozinha e de mal humor – como lhe é peculiar, às 21:00h, chega ao hotel. “Merda. Antes só do que mal acompanhada...” pensou.
No hotel pensou em arrancar sua roupa e deitar e dormir assistindo canal de compras (que dá muito sono), como sempre faz, mas resolveu ir conhecer algo diferente... Resolveu que iria jantar no hotel mesmo. Estava chovendo, não tinha ninguém de bem na rua, checou Maria, a Préconceituosa...
Esse hotel é famoso em Copacabana (decadente da década de 70), tem um bom atendimento, de frente à praia, cheio de acompanhantes de aluguel em volta. Mas Maria, a Madalena, já não se importa mais com esse tipo de profissão. Não mesmo. Ainda existe a revolta de saber que pessoas vendem seu próprio corpo, alugam sua genitália para proporcionar momentos de prazer em outrem. Mas acha ainda pior o fato de existir quem as alugue, que precise disso. Acha revoltante, não entende, mas fazer o quê? Há tantas coisas entre o céu e a terra que Maria, a Aprendiz, não entende – e não quer entender. Prefere a ignorância.
Chegou ao restaurante que fica no andar mais alto do prédio, no trigésimo andar.
Vamos à descrição do ambiente – meia luz com velas nas mesas de toalhas e um arranjo de velas bem bonito na entrada. Era o lugar que ela costuma tomar café da manhã todos os dias. Mas no balcão retângulo e comprido que ficavam os ovos e o sucrilhos de manhã estava vazio e era de pedra cinza (granito, mármore, falso com certeza) dando o toque que precisava para completar o ar fúnebre do lugar – mesmo assim era um lugar fino... Dizem... “Odiei tudo isso!” – preconceito de Maria, a Anarquista.
Coisas falsas, flores falsas, roupas baratas, vinhos de segunda, almofadas de cadeiras gastas, loiras falsas, peitos falsos (verdadeiros não são tão redondos) sorrisos falsos e, pensou “acho que o sotaque daquele ali, que parece italiano, com a loira peituda, também é falso”.
Entendam: a revolta da Maria, a Pobre, não era pelas falsidades, era pelo fato de ter coisas falsas para imitar o que é considerado elegante – não tem problema nenhum em vinhos e roupas baratas! Mas tentar ser o que não é, a frustração nos olhos dos nem um pouco milionários ali, a incomodou bastante!
Maria, a Cliente, é simpática com todos. Entende e se esforça por entender que as pessoas no mundo não estão para servi-la. Então, acha que a mocinha de aparelho (a host do restaurante) até gostou da Maria, a Simpática, e a ajudou a escolher uma das mesas unitárias com a melhor vista – mesmo que chovendo não desse para ver nada – “Não é lindo o forte de Copa”?
Resolveu pedir o que comer... Desanimada pela futura demora de seu prato.
Pediu o prato mais caro de frutos do mar do cardápio: “Eu mereço”. Não... Não merecia.
O prato nada mais era do que 5 - exatamente 5 camarões - do tamanho de uma dose de cachaça quando os boêmios pedem “a branquinha”... Sim, ela mediu entre o polegar e o indicador... “Porque eu parei de beber?!”. Foi servido com “legumes” (cenoura, abobrinha e umas bolinhas que parece que foi uma guerra de brócolis) no vinagre balsâmico – estava azedo.Maria, a Fominha, se deliciou em 15 minutos, pediu uma sobremesa, e concluiu: Não sentimos mais o sabor das coisas... Acho que minha comida é tão falsa quanto os peitos da falsa morena, ali.

2 comentários:

Carol Marques disse...

Caramba! Adorei! Muito, muito, muito!!!

LC disse...

Eita que essa multiplicação de Maria ta ficando boa hein.
UAL!
Será que aguento a Madalena?
Maria, Maria..